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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Papo besteira I - Tortura no exame médico


Tá, vamos combinar. Ficar 12 horas em jejum e beber dois litros d’água horas antes do exame não é legal, né? Fica, nessas horas, comprovado que a bexiga controla o cérebro. Você não pensa direito, suas frases são curtas, seu foco está num lugar só: em segurar-se. Dai, como todo laboratório, como grande parte dos consultórios, do médicos, a bagaça atrasa e você fica pensando que podia ter esperado pra beber aquela água toda uma hora mais tarde. Ou duas. Mas, enfim, você já está lá, não quer esperar mais três semanas pra passar pelo mesmo sofrimento e, pensa, porra, não deve ser tão difícil segurar um xixi na bexiga, né? E vamos lá, firme e forte. “Seja macho!”, lembrei da voz do meu avô amazonense criado no Ceará. Com duas horas de atraso e já sentindo não só vontade de fazer xixi, mas também dor, você é finalmente chamado. A sua cara de desespero comove a enfermeira, a médica e até os outros pacientes. A dor causa solidariedade e esse é um fenômeno que eu nunca entendi. Sempre achei que devíamos, ou podíamos, ser solidários o tempo todo. Mas, enfim, você entra pra fazer o exame. O ar condicionado da salinha pequena parece ter sido recém instalado e ajustado para uns -25°C. É preciso tirar a camisa e abaixar a calça, o que faz o frio literalmente dar uma apertadinha, básica, na sua bexiga. É, meus amigos, seria mais interessante se eu dissesse que eu mijei nas calças, mas, enfim, uma única gotinha não pode ser considerada uma mijada.

O que aconteceu, passado esse sufoco todo, é que a médica, muito solicita e aparentemente solidária na minha dor, me pergunta porque eu estou fazendo um ultrassom de abdômen completo, no que eu, prontamente respondo, seguro, que a médica que me receitou o exame queria confirmar uma hérnia abdominal. Dai, o rosto da mulher se tornou ainda mais solidário, passando para uma cara visivelmente triste. Me espantei, pois achei que uma hérnia abdominal fosse sim um coisa bastante simples, e a cara dela era de que havia algo de errado. No que eu pergunto se aquilo é ruim ou se é uma besteira, ela me confirma que é uma besteira, mas que aquele exame, para o qual eu tive que beber litros d’água e que estava bastante atrasado, não servia para visualizar uma hérnia de parede (ela me corrigiu nessa hora). O exame que devia ter sido solicitado era um ultrassom de partes moles, que não precisa desse tratamento medieval e colocar uma pessoa sem comida, a base de muita água e sem poder aliviar-se. Ela me disse que iria fazer o exame solicitado e que eu teria que remarcar o exame. Porra.

Pense numa pessoa com ódio? Pensou? Agora multiplica por 10. Soma uma bexiga cheia e fome... Então, era eu.

Por sorte, as pessoas solidárias a quem tem dor, também o são com aqueles que são vitimas de erros. Pelo menos, aquela médica era. Deve ter contado minha cara de um dia de fúria e ela deve ter se assutado com isso também... E acabou que ela passou a maquinhinha uns três centímetros acima de onde era o "limite" entre um exame e outro. Me surpreendi que era aquela a diferença entre um exame e outro. Era por conta de três centímetros que eu teria que marcar um novo exame, voltar, demorar horas pra ser atendido de novo. Fiz a cara de agradecido, mas, quem me conhece sabe, não sou muito bom de disfarce e provavelmente meu ódio e indignação estavam transbordando. Só o meu xixi que não. Estava lá, na primeira fila, na porta da saída, na escada do ônibus, ali, pronto e esperando... Uma cutucada mais forte na bexiga e seria um desastre. Mas, já disse, deu tudo certo. E, como não podia acabar ruim a história, afinal, trabalhamos com sorte, a médica – e já não a considerava boa – descobriu, apesar do pedido errado da médica má, que não se tratava de uma hérnia de parede, e sim de um de apenas uma bolinha da de gordura inofensiva.

Pra coroar essa pequena felicidade, vem o momento sublime de aliviar-me por uns longos minutos. Sensação de eternidade e êxtase. Quase um orgasmo. Prazer divino.

Passada a tortura, ainda agradeci a médica, esquecendo toda a falta de estrutura do grande laboratório, o exame medieval, o erro da médica má e a “caridade” da mulher me “dar mais um exame . Impressionante como colocar o bode na sala é uma grande “solução”. Eu continuava com o que tinha, com a mesma dor e o mesmo incomodo. Estava sinceramente feliz de passar por esse procedimento de merda pra não ter merda nenhuma. O famoso bode.Um bode de bexiga aliviada.

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