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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Manhas e manhãs...




Minhas ilusões
São suas flores
Minhas ilusões
São seus sonhos
Minhas ilusões
São seus desejos
Minhas ilusões
São sua manhas e manhãs
Minhas ilusões
Estão além de muros e distâncias
Minhas ilusões
São frágeis crianças
Minhas ilusões
Eclodem lenta e suavemente
E, suaves, mentem à minha realidade.
Minhas ilusões
Atropelam a multidão
Minhas ilusões
Crescem na sombras da escuridão
Minhas ilusões
São desejos sãos que na noite vem e vãos
Minhas ilusões
São frágeis e forte como um leão
Minhas ilusões
São sentidos e intensamente sentidas
Minhas ilusões
São sem ter sido
Minhas ilusões
São do vestido seu tecido
Minhas ilusões
São

Minhas ilusões
Não cabem nunca noite
Mas se compara a um gole de vinho
E no seu beijo tenho o mundo em mãos
Com seu corpo dominho o universo
Com seu sorriso quebro as barreiras do tempo e da realidade
Viro um deus apocalíptico, uma criança encantada.
Sou agora senhor do tudo e do nada.

Meu vicio maior é sentir
E sentir-te é o maior prazer do vicio.
Minhas ilusões
São suas manhas e manhãs
São suas tardes tardias
São suas noites inteiras.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O Colecionador I


Entrou em casa ainda tonto, foi direto à cozinha e pegou um copo d’água. Olhava fixamente para o copo em suas mãos. A sensação fria do copo na pele havia lhe chamado a atenção. Era a primeira vez em duas horas que respirava.

Morava sozinho em um apartamento pequeno, quarto, cozinha e banheiro, mas com uma vista linda pra baia. Pão de Açúcar a direita, Santos Dumont a esquerda, sem prédios. Céu azul já era claro. Aquele seria um dia lindo, mas ele só pensava que não ira conseguir dormir com aquele sol e que daqui a pouco já estaria com uma puta dor de cabeça. Amanhecia e a luz amarelada do sol atravessava a janela sem cortinas, espantando o frio do fim da madrugada. Os poucos móveis faziam que o apartamento parecesse maior. Era apenas uma pequena mesa de madeira com verniz descascado, onde ficava seu computador e a cadeira, um pequeno sofá cujo estofamento já havia sido deformado há tempos, um armário de duas portas comprado há menos de dois meses e com as portas já desalinhadas. Havia uma cama grande e confortável, seu único artigo de luxo. Nada ali era lixo. Só não era importante. E não que fosse uma cama de luxo, mas era melhor que o resto. Havia também uma cozinha, com uma geladeira velha que estava sempre vazia e um fogão que ele nunca havia ligado. Na geladeira tinha água. Água comprada em garrafas. Ele não confiava em filtros. Havia dois ovos na porta da geladeira. Alguém os trouxe e ele acreditava que alguém os levaria de volta. Tinha certeza que não eram seus. Havia um armário. Poucos copos, poucos pratos, talheres, duas panelas. Para comer, no mesmo armário, havia um miojo que já devia estar ali fazia seis meses. Não tinha TV. Não tinha tempo nem vontade de ver TV e quando queria ver um filme, usava o computador. Não confiava em TV e nem em filtros. Havia também um espelho. Um grande e velho espelho de corpo inteiro. Havia um ventilador, mas muito barulhento, que só era ligado em noites de desespero ou quando havia visitas.

As visitas eram freqüentes. Mas não eram bem visitas. As visitas importantes eram poucas e raras, dos poucos amigos que tinha. Tinha três. E lhe bastavam estes. E se os encontravam, quase sempre depois de muita insistência da parte deles, preferia os encontrar na rua, vendo o movimento das outras pessoas, ou melhor, das mulheres. Adorava mulheres. Tinha fascínio. Eram todas, sem exceção, bonitas para ele. Sim, haviam as mais bonitas, as menos bonitas, as assustadoramente bonitas e aquelas que ele tinha que se esforçar para ver algo de bonito. Preferia as bonitas, as realmente bonitas. Para um dos seus três amigos, bicha bem resolvida, sempre falava que achava normal ele gostar de homem e que isso era problema dele, mas que não conseguia, de jeito nenhum, entender como ele não gostava de mulher. Mulher era seu vicio. E como todo vicio, aquilo o destruía.

Seu vicio não era de quantidade. Não gostava de ter uma mulher por dia. Não gostava da alta rotatividade. Mas gostava da conquista e, principalmente, gostava mais das mulheres depois de um certo ponto de intimidade. E intimidade, intimidade real, na qual a mulher se dava de alma a ele, demorava um pouco. Seu vicio era ter uma mulher entregue a ele. Passava uns dois meses tentando conquistar uma mulher. Tinha experiência, ou melhor tinha um olho clinico pra saber em qual mulher deveria ir. Raramente errava. Mas errava. Errar era normal, mesmo que raro.Sabia que não era um garanhão, que não era a caça e sabia exatamente onde e como jogar. A mulher que o notasse certamente se apaixonaria por ele. Nesse método, de ganhar intimidade, havia sempre quatro ou cinco mulheres enroladas com ele, fora as tantas em vista. Umas duas no processo de conquista, no “estamos nos conhecendo”, uma no ápice da intimidade, com  a qual ele se deliciava mais, e outra, que, por excesso de intimidade, ele já ia descartando. A intimidade em excesso para ele chamava-se apego, afeto ou qualquer coisa que complicasse a relação. Havia, para ele, um ponto ótima na intimidade que era conhecer e ser reconhecido pela pessoa. Mas quando a pessoa projetava expectativas nele ai já era demais. Era um paradoxo que mantinha o mundo girando. Ele cultivava e exercitava a intimidade até o momento que encontrava na mulher o prazer sexual máximo da entrega, mas a intimidade por si só continuava a crescer e gerava um apego o qual ele não podia suprir. E assim, pouco antes da coisa se estragar, ele partia. Não sem sofrer. Sim, ele sofria ao ver uma mulher bonita – e todas eram – chorar e sofrer. Sim, todas elas choravam. Todas elas sofriam. Algumas aos prantos, desesperadas, angustiadas. Outras em silêncio, duras, orgulhosas. Mas, ele sabia, afinal era intimo delas, do sofrimento daquelas moças. Mas era assim sua vida. Desapego e uma eterna caça. Uma eterna procura. Colecionava mulheres as quais se desfazia.

Saia todos os dias. Tinha um emprego publico, fiscal da fazenda, que lhe pagava bem e lhe sustentava a vida boêmia. Era bom profissional, mas, o emprego exigia pouco dele. Passava um tempo considerável na rua e isso facilitava seu oficio principal. Poderia ter uma casa melhor e uma vida melhor, mas nada lhe era prioridade, exceto as mulheres que conhecia. Saia todos os dias e gostava de sair sozinho. Sempre bem arrumado, freqüentava todos os lugares do Rio, mas sabia se comportar tanto no baile funk quanto nos salões do municipal. Era um caçador.

E era por isso que segurava com raiva aquele copo de água gelada. Um dia era da caça, outro do caçador. E aquele não havia sido o dia dele. Estava há dois meses saindo com uma mulher. Jogadora, malandra e, como todas, bonita. Saia com ela e com outras três, mas essa era a que lhe causava mais dificuldade, a que mais dificultava o jogo. O sexo era maravilhoso. Era uma mulher magra, alta, pernas fortes, uma bunda linda, olhos verdes, mas o que lhe atraia era o sorriso. Sempre amou sorrisos. Mas ainda não eram íntimos. Estavam no processo e ele não tinha certeza de que chegariam a realmente ter a intimidade que ele queria. Era uma caça e era um desafio.

Naquele dia, uma segunda feira, haviam saído para tomar um vinho. Gostava de vinhos, mas nunca tinha tido paciência para estudá-los. Assim como mulheres, sabia apreciá-los. Tomaram duas garrafas de um Awilka 2006 em um restaurante na beira do Aterro e estava ligeiramente bêbados, ou melhor, ela estava. Ele nunca ficava bêbado, não gostava de perder o controle e sabia que precisava sair dali o quanto antes, pois corria o risco da mulher passar do seu ponto e aquela noite teria sido, sexualmente, desperdiçada. Mas ela insistiu. Estava bêbada, mas parecia saber o que dizia. Ele pediu água e insistiu para que saíssem de lá. Ela pediu uma nova garrafa e a conta. Beberiam na casa dela. Ele gostava do ímpeto daquela mulher em assumir o controle. E mesmo sabendo que teria poderia ser mais incisivo, relaxava para ver as demonstrações de poder dela.

Foram então para a casa dela. Abriu a porta com o vestido semi aberto, mostrando as costas nuas, metade da terceira garrafa esvaziada no caminho. Ele começou-lhe a beijar a nuca e as coisas, ao mesmo tempo que batia a porta atrás de si e tirava o resto do vestido dela. Caminharam não para o quarto, mas para cima da mesa de jantar. Vestia apenas seu salto vermelho e sua calcinha preta. Arrepiou-se ao deitar as costas no frio do tampo de vidro. Ele admirava aquele corpo lindo de seios simétricos, aquela barriga absurdamente sexy, aqueles olhos que pareciam uma piscina e aquela boca, onde morava um dos mais belos sorrisos que ele já havia visto. Parou para admirar aquela paisagem por alguns instantes, alguns segundos. Passeava os olhos do seu rosto e descia pelo seu corpo, passando por suas coxas e subia de volta ao seu rosto quando, para sua surpresa, percebeu que a mulher não respirava.

Estava tonto e demorou a entender o que acontecia. Achava a principio que ela havia dormido, bêbada, mas depois de sacudi-la e até bater-lhe a cara, percebeu que estava morta.

Quis entender o que estava acontecendo, mas era prático demais. Não se desesperou. Tentou um respiração boca a boca, uma massagem cardíaca, mas não tinha habilidade nem sucesso. E, principalmente, não tinha apego a ela. Não tinha apego a nada. Era lamentável que morrido. Ainda mais assim, antes de uma trepada que parecia ser sensacional. Mas, pensou, as pessoas morrem, que merda. Pensou em ligar para a policia, mas de cara veio a visão de todo o constrangimento e embaraço que seria aquela situação. Ao mesmo tempo, tentou fixar na memória tudo aquilo que eles havia feito, comido, bebido, falado. Sabia que seria questionado. Só não queria ser questionado agora. Respirou e voltou a olhar o corpo dela sobre a mesa de vidro. Morto era ainda mais lindo. Lamentou, pois viu que desejava muito ter intimidade com aquela mulher. Mas não tinha apego. E aquele corpo não tinha sorriso. Estava, a seu jeito, em choque.

Fumou um cigarro na varanda dela. Era noite. Fazia frio. Decidiu ir pra casa. E lá, segurando o copo d’água gelado, pela primeira vez, respirou.

Que merda, pensou. Esperou dar oito da manhã. Antes era muito cedo para ligar para qualquer pessoa, mesmo um amigo, mesmo em caso de morte. As oito ligou para o amigo, aquele que não gostava de mulher e que era delegado. Enquanto explicava calmamente o caso, pensava que era bom ter amigos.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Sobre o Tempo

















Tempo.

Tempo você não pede.
Tempo você não ganha.
Tempo você não perde.
Tempo você não guarda.
Tempo você não acha.
Tempo você não empresta.
Tempo você não devolve.
Tempo você não acumula
Tempo você não prende.
Tempo você não solta.

Tempo você não mata.
O tempo mata você.
Ele está lá. 
Antes de você.
Depois de você.

Sem pausas.

O tempo começa.
O tempo acaba.

O tempo passa.

Aproveite seu tempo.