Pesquisar este blog

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ele tinha a mania de se apaixonar

Ele tinha a mania de se apaixonar sinceramente. E rapidamente. Também
tinha a mania de se desapaixonar francamente. Também rapidamente. Era
intenso.

Ele achava que lhe faltava tempo, mas na verdade lhe faltava
paciência.  Não tinha saco para ver um amor nascer, crescer e ser
forte. Isso requer calma e paciência. Ele não tinha nenhum nem outro.

Ele tinha mania de construir amores, usando a lógica e conveniência ou
os materiais que dispunha. Seus amores nasciam da noite pro dia.
Morriam da mesma forma.

Ele queria um amor pronto. De microondas. Hot pocket love. Mas com
sabor de verdade. Sim, ele queria muito. Era exigente. Ao menos com
isso. Ele era intenso. Amava intensamente a primeiro sorriso. Amava
uma flor, se uma flor visse. Amava um bêbado, se a bebida fosse boa e
se por um instante, houvesse ali poesia. Mas em dois instantes,
esquecia. Do intenso amor que sentia e cultivava, guardava apenas um
vago sorriso. Um sorriso que sempre carregava no bolso. Um sorriso
sincero e efêmero. Sem calma e sem paciência. Só sabia amar assim. Por
instantes. Efemeramente.

Ia assim, desgovernado, colecionando amores de ocasião, aqueles de
promoção, sem rumo nem direção. Ele ia. Ele tinha mania de se
apaixonar. Não admitia a idéia de uma vida sem paixão. E não
considerava a hipótese de ter uma paixãozinha, de uma coisinha à toa.
Ele tinha mania de revoluções. De que o amor seria uma revolução. Algo
incrível. E sempre era. Efemeramente incrível. Incrivelmente efêmero.

Um dia ele parou. Estava cansado. E foi a primeira vez que ele parou.
Sem saber onde estava, tampouco aonde estava indo, quis saber de onde
veio e olhou pra trás. E no caminho, nada reconheceu senão o cansaço.
Carregava com ele pedaços de histórias e memórias que não eram dele. E
esse era um saco pesado como um saco de tijolos. Estava cansado e já
não entendia porque carregava aquele saco. Deixou os tijolos pra trás
e se deitou no chão a olhar o céu. Adormeceu.

Sonhou com sorrisos sem rosto.

Acordou ainda cansado e ligeiramente feliz, contagiado pelos sorrisos
que viu. Pensou em continuar andando, sem saber aonde ir, mas ali lhe
parecia tão bom que ali mesmo ficou. Sabe que lhe faz falta alguns
pedaços que perdeu entre os amores que deixou. Sabe que caminhar na
pressa de amar cansa. Sabe que algo mudou naquele parar e adormecer.
De tanto andar sem rumo, aprendeu calma. Ainda lhe falta paciência.
Pensou em plantar uma árvore e esperar ela crescer para lhe dar
sombra. Pensou que poderia chover. Pensou que até então não amara
ninguém, que não sabia o que era amor e que nada naquele caminho havia
existido. Havia apenas sorrisos sem rostos... Pensou que poderia ficar
triste. Não amar ninguém é muito triste. Mas, passados dois segundos
de susto, pecebeu-se mudando e sorriu. Sorriu de um sorriso tão
sincero que nem sabia que era seu. Pensou que coisas novas poderiam
acontecer. Como talvez aprender a ser paciente e amar alguém. tudo era
possível.

Estava feliz. Sentia-se livre. Andou até uma sombra e decidiu esperar.
Havia perdido muito tempo na vida, mas não havia pressa. E, por não
haver pressa, mais feliz ficou.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Tudo que não era táctil.

...

Éramos nós, um sonho.
Alimentávamos-nos de ilusões,
De tudo que não era táctil.

De manhã, comíamos nossas esperanças e nossa imaginação.
Almoçávamos, entre nuvens, efêmeras possibilidades e devaneios trazidos pelo vento.
Devorávamos, distraídos, fantasias de infância, cigarros baratos e café amargo ao final da tarde.
E ao deitar, nos empanturrávamos de suor e gozo, em uma fome sem fim.

Éramos nós, sim, assim.

... 

 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sabe um dia estranho, tipo hoje?


Nada de novo no front, exceto uma estranheza que me acompanha desde essa manhã. Sabe quando você desconfia que as coisas não estejam no mesmo lugar de antes e de repente percebe que é você que não está no mesmo lugar? Parece que tá rolando um filtro, tipo instagram, nas cenas ao meu redor. Num instante tem supersaturação de tons que, de repente, pisco o olho, vira uma cena em sépia. Parece a sensação de quem acabou de trocar de óculos, mudou o grau, e passa a enxergar detalhes que antes já não via e deixa de enxergar coisas que lhe pareciam óbvias. Então, acordei meio assim. Com grau novo. 

E vendo as coisas assim, estranhas, com um astigmatismo emocional, sem saber os limites das coisas e mesmo sem saber ao certo suas cores, tudo, absolutamente tudo, me parece estranho. Estranho nunca soou tão bem e tão clara para uma situação. Poderia ser TPM. Tem mulheres que acham o mundo estranho durante a TPM. Mas acho que não me cabe TPM, se bem que nesse nessa sensação esquisita toda eu não me espantaria. Enfim, até o que escrevo parece estranho pra mim. Não que não seja, sempre, pra você que lê, mas, pra mim é estranho me achar estranho.

Na prática é mais ou menos uma hipersensibilidade pra algumas coisas e uma indiferença para outras, mas meio assim misturado, sem muita definição ou fronteiras. E eu, que faço sempre um esforço gigante pra ter foco nas coisas, começo a divagar. Chega uma hora que é melhor parar de brigar e se entregar ao inevitável. Hoje não tá rolando foco. Nem senso prático.  

Está muito mais divertido devanear na visão singular em que vejo o mundo hoje.  Ver o mundo de um jeito diferente pode ser algo perigoso. Pode ser que algumas verdades morram ou desapareçam, pode ser que surjam outras, não sei. Sei que está tudo muito estranho e sem sentido no mundo e é perigoso quando vemos as coisas assim. Vamos esperar passar e vejamos onde é que eu vou parar... 

E olha que eu nem bebi.