Triste. Ao mesmo tempo, resignado.
Amigos de muitos anos podem nos deliciar com idéias simples em conversas casuais. As vezes, são eles que nos apresentam casos reais e simples que representam grandes teorias da vida. Sempre acreditei que uma das grandes coisas da vida, senão o grande presente da vida, eram os encontros que ela nos propicia. A vida que temos se define entre boa e ruim dependendo da qualidade dos encontro que temos. Esses encontros podem ser únicos, pontuais, que ocorrem num único instante, ainda assim marcantes. Mas, na média, numa vida média, contamos e consideramos mais importantes aqueles encontros que se tornam grandes e profundas relações. Aqueles que geram vinculo e, ou, cumplicidade. E vínculos podem ser a amizade, o amor, a admiração. Normalmente essas pessoas caminham em paralelo a gente. Mesmo que estejam distante fisicamente, elas estão ali, ao seu lado. A esses chamamos amigos no sentido cheio da palavra.
Acontece que antes de sermos amigos, somos pessoas. E pessoas vivas em constante processo de crescimento e aprendizado. E que podem, e devem, mudar. Volta e meia, nós mesmos - eu e você, inclusive - mudamos. E essas mudanças fazem que caminhos que andavam em paralelo, mesmo que distantes, tomem direções distintas. Novos rumos. Novos valores. Enfim, mudanças... Acho ainda que o carinho nunca se perde. O amor vindo de uma amizade, quando morre, deixa como cicatriz um profundo carinho. Mas a admiração pode se perder, assim como a comunhão de gostos, interesses, prazeres, todas aquelas coisas práticas e vivas que estão ali na pele das relações. E daí, se torna difícil compartilhar risos e alegrias. A dor tem outro mecanismo, acho eu. Mas a alegria é o que se deseja dividir ou receber...
É triste quando vemos um vinculo desses se desfazer, morrer aos poucos. Sim, é preciso que amigos cuidem um dos outros, mas, veja bem, é preciso entender que algumas coisas se perdem mesmo, por que, de alguma forma, mudamos nos elementos básicos que fazem duas pessoas não só se encontrarem, mas se reconhecerem... E é preciso deixar e deixar-se ir. Mesmo que o processo seja doloroso. Cada pessoa tem sua necessidade de movimento, seu tempo, sua fome. Deixar e deixar-se ir não é uma questão de descaso, mas uma questão de respeito. A si, ao outro.
Lembro dos amigos que tinha aos 14 anos. Eram tantos. Eram tantas as possibilidades. Eram muito bons. Daqueles, carrego hoje poucos, mas os melhores. Não por esforço meu e deles. Não que não houvesse esforço, houve muito. Mas acho que porque, desse encontro e ao longo dos anos, sempre houve um reconhecimento mutuo, uma admiração, além do carinho e do amor que surgem com o tempo. Tenho orgulho dos bons amigos que tenho desde esta época... Mas não há como ter um certo lamento por aqueles que, por algum tempo, reconheci como amigos e que, porque temos que ir, por que mudamos, já não mais amigos sãos. Difícil fazer amigos depois de uma certa idade. Digo, é facil encontrar pessoas e ter uma relação de amizade. Mas é difícil achar amigos daqueles que você chamaria para enterrar um corpo se fosse preciso. Eu tive a sorte de reconhecer alguns depois dos meus trinta! Mas o tempo é outro, o tempo é curto, as prioridades muitas.
Mas o que fica é isso. As boas memórias que tivemos. Aos amigos que passaram é preciso reconhecer a importância que tiveram. Ao que ainda estão, espero que pra sempre assim o permaneçam.
Um comentário:
Amei. Sinto exatamente igual. e sou feliz por ser uma das sobreviventes desse voo. Que também tem sempre novos e lindos passageiros. Essa é a sabedoria. Saber aportar e lançar a vela. Te adoro!
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