Hoje estou sem palavras. Correram todas de mim. Me escaparam pelos dentes, entre lábios, sorrateiras. E eram tantas as palavras. Com elas tinha planejado frases lindas, prosas, poemas, declarações. Eram elas as minhas armas e nelas eu confiava.
Mas fez-se o silêncio. Um silêncio tão grande e sincero que o único som em mim são as batidas no meu coração. Ele bate forte e é grande e generoso. Mas, sem, nesse mundo mudo, está pequenininho. Ainda bate forte. Apanha, mas bate. Não cai, nåo se fecha, não desmorona. Bate forte.
E por ser, nesse momento, a única coisa que em mim se faz ouvir, é porque é essa a única coisa que importa, é porque estou, mudo, mas vivo. E é ao encontro de mim, dentro do meu peito, que eu parto agora.
E as palavras que se foram, talvez porque, tantas, me distanciavam de mim. Com elas, formava cores e contos, fantasias e resolvia os problemas do mundo. As palavras são poderosas. Mas agora se foram e aqui estou, no abismo silencioso de mim. Eu e eu.
Meu coração guarda segredos de mim. Coisas que eu não entendo ou que, com palavras, eu criei. Coisas que estão lá, esperando, esperando o momento de acontecerem. Meu coração sabe tudo de mim. Lá moram meus sentimentos e meus pensamentos. Aqueles que escondo com palavras e com atitudes insensatas. E é só nele que eu vou encontrar o que me é mais preciso. Com palavras eu diria que é paz, mas não sei ao certo o que vou encontrar. E, como estou sem palavras, de nada adiantaria escrever isso aqui.
O caminho é longo, mas começa no primeiro passo. E essa busca ninguém pode fazer por mim. E, nela, eu não posso contar com ninguém. Sei que aqui fora, nesse mundo de cores, sons e sensações, há sempre perto de mim uma voz amiga. Talvez duas, ou três ou mais. E que essa voz, ou vozes, de uma forma ou de outra sempre souberam que era essa a grande questão: escutar a mim mesmo.
O caminho é longo e eu vou ter que ter paciência. Vai ser duro o silêncio, mas preciso perder as palavras pois elas são tantas coisas, reveladoras, traiçoeiras, libertadoras, carrascas e, com o tempo, sempre o tempo, elas poderiam ser, de novo, minhas muletas, minhas armas. E é preciso, urgentemente, me desarmar. E me conhecer.
Tenho medos e dúvidas. Muitas. Sobre como será esse caminho. Sobre que monstros eu vou encontrar. Sobre a solidão dentro de mim. Mas, sobretudo, sobre o que fazer quando eu me encontrar.
Acho que vou me dar um abraço, que eu to precisando.
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