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quinta-feira, 17 de março de 2011

O mundo muda e você...

O mundo muda e as pessoas perdidas nas suas, até então, importantes coisas, não se dão conta de que, com ele, mudam as coisas do mundo. As pessoas somos eu, vocês, eles, nós.
O mundo e as coisas do mundo, assim como as coisas no mundo, mudam, vêm e vão, nascem, crescem e morrem, se calam, nos falam, mudam, o tempo todo, todo tempo. Ficam guardadas no fundo de alguma gaveta durante uma eternidade e ali padecem ou são resgatadas, por acidente talvez, para ali voltarem após esboçarem na gente um meio sorriso, uma quase lágrima, ou nem isso.
Por outras vezes, resgatadas tais coisas, voltam elas à vida, vivas, mais vivas, como se, naquele refugio, naquele sitio, nunca estivessem estado. Gavetas, gavetinhas, gavetões, onde cabe o mundo ou mundos ou pedaços do mundo, nelas sempre há uma história que não aconteceu, algo que teria sido, algo que podia ter sido, qualquer coisa assim, mas que, sabe-se lá como, estão ali, numa foto, num pedaço de papel, numa palavra única, no fundo do fundo do fundo, no cu do mundo.
Ninguém se surpreende se, de repente, ao olhar aquilo que sempre esteve a olhar, aquilo que por tempos esteve sempre a sua frente, aquilo já não é mesma coisa. Mudou. Disfarçadamente, aquilo mudou. Como o mundo.
As coisas do mundo, seu cu inclusive, mudam o tempo todo. São as modas, os medos, o que se sucede, o que se planeja, tudo indo, vindo e indo, novamente, repetidamente, num movimento continuo, como as variações da maré. Mudanças que, numa hora, vêm de um jeito quase imperceptível, noutras, vêm como um raio a transformar uma vida em outra vida.
Ninguém acorda sendo a mesma pessoa que era quando foi dormir. Há, mesmo em nada se fazendo, mesmo que num sonho, uma artimanha, uma armadilha camuflada, um algo qualquer que a faz mudar mesmo antes de acordar. Não se trata de coerência, de princípios éticos, posições políticas, consciência ecológica, opção sexual, gosto musical e coisas afins. Não são aquelas mudanças para quais são dedicados argumentos, pensamentos, dúvidas, tratados filosóficos ou qualquer esforço mental que seja.
É a mudança que ocorre antes do pensar, num lugar entre o instinto e o pensamento. Essa mudança primitiva, primária que simplesmente acontece. Caos? Acaso? Universo conspirador? Tudo isso junto. Um mundo vivo, evolutivo e involuntário, provocador de mudanças primitivas, de alterações misteriosas, onde a percepção de cada ser é a real causa e a principal conseqüência destas mudanças.
Não se fala aqui de esoterismo, religiosidade ou filosofia. Essas ciências, mesmo aquelas que usam princípios como a fé e aquelas que nem ciências são, têm, necessariamente, um fim. Explica-se nelas o porquê e o como das coisas e se assemelham com aquilo, já dito, que se dá ao elaborar idéias, ao pensamento consciente. Fala-se aqui de percepção, do exercício da percepção em si, abstendo-se das referências geográficas, lógicas ou morais. O mundo muda e não se percebe quando, há somente a constatação de que ele mudou quando, de fato, a mudança já se deu, sendo o mundo agora um mundo diferente do que era antes. A percepção do não obvio, daquilo que extrapola os sentidos, daquilo que está a nos cercar e que de nós, pela convivência e conveniência, já faz parte, é desta percepção que se trata aqui.
O mundo muda. O tempo todo. Passa. O mundo é outro.
Eu, você, nós, eles. Quem foi que viu?

(texto de algum lugar em 2005)

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