Tenho a teoria de que a gente só dá aquilo que a gente tem.
Antes de prosseguir, vamos deixar claro que não quero ser pretensioso e explicar o universo, apesar do texto ser sim pretensioso. Mas não é a intenção. Longe disso. Isso aqui é só um ponto de vista. Certo, errado, torto? Não importa. É apenas o meu ponto de vista e, sendo coerente com a primeira frase desse texto, estou dando a você o ponto de vista que tenho. (E sei que essa frase vai gerar inúmeros trocadilhos ao estilo Carlos Aberto, mas tudo bem.)
A gente só dá aquilo que a gente tem. Parece simples e muito óbvio, mas não é muito não. Com fome, comemos, mas ainda podemos dividir o prato com alguém que precise. Mas, quando estamos famintos, realmente famintos, será que ainda assim conseguiríamos dividi-lo? Vamos a um exemplo mais simples: quantas crianças, mesmo as mais educadas, oferecem o último biscoito do pacote, o biscoito favorito? Só obrigado pela mãe. Pras coisa materiais, a gente só dá o que nos sobra. Presta atenção...
E pra sentimentos e sensações eu acho que é a mesma coisa... Como é que alguém pode dar amor, se não há amor de verdade dentro dessa pessoa? Ou melhor, se a pessoa ainda não aprendeu a amar? Como faz pra dar carinho, se a pessoa é carente de carinho? A mesma coisa sobre solidariedade, afeto, respeito, amizade, sobre tudo... Quando doamos afeto, é certo que ganhamos a felicidade de ver o afeto multiplicado, mas somente damos de acordo com aquilo de que podemos dispor no ato da doação.
Mas é difícil pensar em alguém que não saiba amar. É difícil visualizar isso, esse lance de “saber amar”. Acho que é difícil até mesmo definir o que é amor. E podemos trocar a palavra amor por afeto ou algo parecido. Amor é muito. Amor é difícil. Mesmo sem defini-lo, penso que o amor que liberta e deseja o bem da outra pessoa e que isso é bem diferente da atração egoísta que toma posse e simplesmente deseja. Amar não é possuir.
Mas, voltando à teoria de que a gente só dá aquilo que a gente tem, eu acho que as pessoas precisam se dedicar mais a descobrir o que elas têm, de verdade, pra dar. E, principalmente, descobrir aquilo que elas não têm pra dar. As pessoas precisam se auto conhecer, reconhecer seus limites e superá-los, reconhecer suas qualidades e fazer bom uso delas. Desse jeito as pessoas vão saber o que realmente elas têm pra dar...
Nada simples isso, eu sei. A teoria é simplista, mas o lance não é simples...
E nessa levada vejo uma gente se vendendo caro e valendo pouco. E vice e versa. Gente que tá o tempo todo se vendendo por algo que não é. E nem é por maldade, malandragem ou sacanagem não. É por pura ignorância. Por puro desconhecimento de si.
Por exemplo, pessoas que, para convencer a si e aos outros, contam uma vantagem de si que quase sempre não é real, gerando uma expectativa que muito provavelmente será frustrada. São pessoas que acham que amar se faz com credenciais e currículo...
Outro exemplo, pessoas que abdicam de suas próprias posições em prol de outras. Sim, uma parceria se faz da partilha de coisas e sonhos e comuns e se faz com concessões nas áreas de conflito. Mas quando abrimos mão de algo que faz parte de nós, não acho que isso seja amor. Acho que isso é apenas carência. Abrir mão do que somos e daquilo que em nós nos orgulhamos é muito indigno...
E nessa hora vejo as pessoas mendigando por amor e afeto e praticamente negociando taxas e preços por esse amor, como se realmente amar tivesse um preço... Sei lá. Acho isso louco.
E é nessa hora que volto à teoria de que a gente só dá aquilo que a gente tem.
Cabe a gente saber do que somos carentes, afetivamente, e cabe a nós fazer, por nós, o que gostaríamos que outros nos fizessem. É preciso reconhecer-se e é preciso amor próprio. E não falo de orgulho. Falo de amor pela pessoa que você é. Falo de dar a si, amor e afeto, sempre, ao ponto que seja um dia possível dá-los a outras pessoas, sem preço, sem medidas, sem expectativa de retorno, sem falsidades, sem idéias, sem ilusões.
Acho que o mundo anda carente de amor de verdade...
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