Carta a uma ilustre desconhecida I

Eu não sei o que escrever. Não sei mesmo. Não sei se há algo mais a ser dito, se há algo que ficou mal entendido. Não sei...

Sei que tivemos muitos fins, muitos recomeços, quase todos tão próximos que praticamente não existiram, mas que deixaram sempre uma marca, uma cicatriz. Mas dessa vez sinto que o recomeço é algo que só vai viver na minha ilusão.

Eu não queria isso. Mas entendo como isso aconteceu. Eu fico surpreso disto não ter acontecido antes, mas fico absurdamente triste disto acontecer agora. Fiquei triste também pela maneira como aconteceu. E fiquei triste por ontem. Minto, ontem eu fiquei com raiva. Eu não queria um fim, muito menos que esse fim fosse assim.

Quando você disse que queria conversar, não imaginei que fosse isso. Também não imaginei que sexta tivesse sido tão ruim assim. Sinceras desculpas por sexta. Foi a terceira vez que você me chamou de egoísta, mas foi a primeira na qual eu me senti egoísta. Quando você me chamou pra conversar, eu não tinha idéia que essa tinha sido a gota d’água. Eu achei que íamos poder conversar e que eu ia poder contar sobre algumas coisas que começaram a se resolver pra mim.

Eu esperava que tivéssemos uma chance de ficarmos juntos, de verdade. Fantasiei mil e uma coisas envolvendo nós, eu passei o tempo todo fazendo isso. Passei mais tempo fantasiando do que tomando atitudes pra realizar isso. Talvez porque no mundo da fantasia tudo fosse mais fácil e mais bonito que na minha realidade. Talvez esse tenha sido um erro grande meu, não ter sido mais prático com as coisas... Eu esperava demais de nós.

Vou guardar de você o seu sorriso, a sua voz rouca, a imagem de você dançando em cima da cama, sempre, um tesão que nunca senti, o cheiro, o gosto, tudo, a cerveja, a cachaça, o cigarro e o café, tudo. Vou guardar de você o que eu puder dentro de mim. Vou guardar uma saudade misturada da saudade daquilo que eu tive com a saudade daquilo que eu queria ter tido.

A minha vida vai se resolver. Não sei se tão breve quanto eu gostaria, mas mais breve que antes. No tempo das coisas acontecerem, no tempo certo, com a “pressa(ão)” que eu tenho. Se eu vou ficar bem? Não sei, é o que eu espero. Mas agora eu não to nada bem...

Um beijo.




(há alguns anos atrás...)