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terça-feira, 12 de julho de 2011

Sonho II


Eram seis horas da manhã e um som lhe incomodava. Sabia que eram seis da manhã apenas porque havia se deitado há pouco tempo para dormir e o dia já clareava. Os olhos fechados, a cortina fechada, a cabeça meio bêbada que rodava e o corpo cansado, mas ele não se entregava aos braços de Morpheu. Aquele barulho distante, seco e constante tomava conta da sua cabeça.
Não havia forças para levantar, tão pouco para pensar em entender do que se tratava o maldito e insistente som. Não sabia se era real ou se era algum eco em sua cabeça. Mas, se era como um eco na sua cabeça, era, portanto, real.
Era como o metal do martelo batendo no metal do prego. O som de uma batida perfeita, precisa, forte, seca. Distante, como se fosse a dois prédios ao lado ou como se fosse bem, bem lá no fundo do cérebro.  Exausto, sabia que não importava o que era, de onde vinha, nem se iria parar. O incomodo era de fora, de fora dele e fora do seu alcance. Para resolver aquilo, teria que se levantar, procurar e tentar resolver, mas primeiro, teria que desistir do seu sono e desistir de si. Restava-lhe aceitar o barulho que lhe incomodava. Restava-lhe aceitar.
Abraçou o barulho e mergulhou bem fundo no mundo dos sonhos. Arrumou um espaço para aquele ruído e sobre ele construiu imagens e fantasias. A velha máxima de que, se não se pode com eles, junte-se a eles. Mas não sem ética, diz a política correta atual. E o ruído já era então um estrondo e o estrondo era um trovão e o trovão era uma voz. Metálica e seca. Dizia “pula”. Lentamente, num ritmo martelo, dizia, “pula”. “Pula, porra!!!!!”. E ele pulou.
Tinha medo de alturas e nunca, nunca mergulhava de cabeça. Contra as alturas ele procurou enfrentar e, se não olhasse pra baixo, sobrevivia. Mas, ao pular de cabeça, mesmo que se olhe pra cima, olha-se pra baixo. E ele caia, de cabeça, obedecendo a voz sem rosto  que agora dizia, no mesmo ritmo martelo, “vai”.
A queda era curta e, com o medo de sempre, tentou fechar os olhos. Mas quando se fecha os olhos em sonhos, se enxerga mais longe. E ele via, mesmo de olhos fechados, a si. Mergulhava de cabeça dentro de si e, ao perceber que aquilo tudo – o medo, a queda, a paisagem, a coragem e a voz – era nada mais do que ele, sorriu.
Nascia uma idéia.
Acordou como quem acorda de um pesadelo. Suado, assustado, sobressaltado. Olhou ao redor e percebeu-se na mesma cama que havia deitado há quinze minutos. Levantou-se. Desligou a o despertador que estava no outro quarto. Fez-se o silêncio na casa. Mas, dentro da sua cabeça, martelava uma voz. Dizia: “Viva”.

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