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terça-feira, 19 de julho de 2011

Parte de mim.



Parte de mim dói.
Como quem cai, quem leva um tombo.
Como quem rui, desmorona, se desmantela.
E não que me doa um braço, uma perna ou só o coração.
Parte de mim dói como se fosse todo.
Parte de mim chora,
não se conforma, se desespera.

Parte de mim é pura raiva.
Daquelas de cegar, de anestesiar, de fazer levantar um carro.
Capaz de loucuras e de machucar.
Capaz de destruir sem olhar pra trás.
Raiva em palavras e em lágrimas, suor e socos.
Raiva de quebrar os ossos, enforcar pescoços, retirar as tripas.
Parte de mim mataria.

Parte de mim é orgulho ferido.
É a sensação de ser usado e deixado.
Um corpo seco, vazio e morto, sugado por um vampiro.
Um morto, ainda vivo.
Parte de mim é um deixar pra trás.

Parte de mim é saudade.
Do bom que havia.
Do bom que poderia ter havido.
Saudade do futuro do pretérito.
Saudade das viagens, das conversas, do sexo.
Saudade de parte de mim que se foi ou se perdeu.
Saudade é a parte de mim que ainda lembra.

Parte de mim quer esquecer.
Deixar a dor e a raiva pra trás.
Deixar as lembranças, boas ou ruins, pra trás.
Quer esquecer o peso, o parto, o pouco.
Quer esquecer a força, o esforço, a forca.
Esquecer e seguir em frente.

Parte de mim quer vida e se alivia.
Respira e é leve.
É livre, sem pesos e sem danos e segue tranqüilo.
Fez o que pôde e o que não pôde.
E essa parte, quando não chora nem se enraivece, até ri.

Partes como cacos de ladrilho quebrado.
Ou um copo ou um prato.
Partes que não mais se encaixam.
Partes que se encontram e se misturam e se revezam,
em um desequilíbrio de sensações extremas
de um viver tão a flor da pele.
Partes de mim que partiram.
Partes de mim que partirão.
Metade de mim pena,
A outra, pulsa.


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