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terça-feira, 17 de maio de 2011

E o ciúmes?


Quando eu era mais novo, eu tinha uma máxima: “eu não sei o que é ciúmes e não tolero que sintam ciúmes de mim.”
Eu realmente não tinha. Não sabia do que se tratava. Não entendia o que acontecia na cabeça das pessoas quando elas começavam a fazer besteira por que sentiam ciúmes.
Alias, nunca entendi e continuo sem entender a diferença entre ciúme e ciúmes?
Até meus 22, 23 anos, eu literalmente cagava para sentimentos de insegurança. Afinal, eu era atleta, popular, gente boa. Obvio que essa opinião não era unanime e provavelmente nem era a opinião da maioria, mas essa era a opinião que eu tinha de mim e, portanto, a que me interessava e a qual eu me apegava. Então, não passava pela minha cabeça ser inseguro. Literalmente, eu era mais eu. Muito mais eu.
Esse comportamento sempre foi meio egocêntrico. Na verdade, bastante egoísta. Aliás, acredito muito que ninguém é 100% altruísta ou generoso 100% do tempo. Temos momentos de generosidade, momentos de egoísmo, momentos de calma, de ansiedade. Também acredito que não adianta buscarmos os sentimentos que mais admiramos, pois é impossível sustentá-los o tempo todo. Acho que o caminho é sempre o equilíbrio. E o equilíbrio era, há dez anos atrás, um ponto muito vaidoso pra mim.
Mas isso é outra história. Nessa época, até meus 22, 23 anos, eu defendia mais o meu ponto de vista e era menos tolerante, ou melhor, sensível, ao sentimento alheio. Acho que foi um pouco de adolescência tardia, inclusive. Mas, independente da causa, eu não sentia ciúmes. Ou não me dignava a sentir. Havia mulheres mil, de tipos mil, de lugares mil, de um jeito ou de outro à minha disposição. Como poderia eu saber o que era ciúmes, se, a qualquer sinal de envolvimento, meu ou da moça, eu já pegava o caminho da próxima? Alias, nessa época era sempre melhor a próxima... Essa certeza era tão grande que eu não precisava olhar muito além do meu umbigo e gostava muito do umbigo que eu tinha. E gostavam dele também.
E, com o passar do tempo, o umbigo foi crescendo. Cresceu junto com a barriga e a adiposidade. Cresceu no abandono das competições, da vida de atleta, na descoberta dos prazeres etílicos universitários, na falta de tempo por trabalho. Enfim, o umbigo cresceu e não era assim, dilatado, tão atraente para mim nem para as mulheres com as quais eu me envolvia. De repente, eu me vi numa situação nova, na qual eu precisava elaborar uma abordagem, uma estratégia.  Eu precisava, enfim, me esforçar.
Não foi um processo assim, automático. Pelo contrário, ele foi muito lento. Ainda ocorre e está longe do fim. E, ao mesmo tempo que ele foi libertador, teve seus momentos doloridos.  Essa descoberta do eu, formado pelas minhas palavras e idéias e que fica bem longe do espelho, é uma puta experiência. Não, não pense que é tolice. Talvez até seja, mas, pra mim, que fugi de me aprofundar em grandes emoções durante muitos anos, descobrir-me é uma puta experiência.
Talvez isso não seja de todo verdade. Talvez eu não tenha sido tão hermético, frio e vaidoso assim. Talvez eu também eu não tenha evoluído tanto para ser o que eu sou hoje. Talvez o que eu seja hoje não seja grandes coisas. Mas, o barato disso é que, em certo grau, sei lá qual, meus valores mudaram. O que é importante mudou. Continuo, como sempre, um admirador descomedido do belo, mas o conceito do belo pra mim mudou. Cresceu, se aprofundou, está diferente. Alguns chamam isso de amadurecimento e não me interessa qual o nome se dá a isso. O importante é o prazer em curtir essa mudança.
O importante é o prazer.
O importante é o prazer  de me conhecer, eu mesmo. Digo, de eu mesmo me conhecer. Não garanto que eu vá ser interessante para uma outra pessoa. Não tenho a menor pretensão de convencer e conquistar, exceto quando eu quero convencer ou conquistar. O que não é raro. Mas isso também é outra história.
Eu precisei começar a me conhecer coincidentemente ao mesmo tempo que o umbigo foi se tornando mais fundo e ao mesmo tempo que eu descobri que me conhecia pouco. Passei anos da minha vida sendo um fugitivo das minhas emoções, racionalizando sensações irracionais. Teorizando sobre coisas que só se podem e se permitem sentir.  E sempre me frustrava com os rompantes passionais que, aprisionados, transbordavam sem mas nem porquê. E sobre os quais, eu, depois, na maior cara de pau, elaborava complexas tramas lógicas...
Tolo. Sempre fui tolo. Nunca quis ser o mais esperto. Esperto no sentido de ser malandro. Nunca fui malandro. E essa era mais uma das minha tolices. 
Eu não me conheço. Mas me conheço mais do que há dez anos atrás. E, na média, gosto de mim pra caralho. Longe de ser incrível, mas também longe de ser modesto, já ouvi que uma das minhas características é que eu era “bom”. E, por me conhecer um pouco, pude concordar. Mas, o que eu gosto mesmo são os meus defeitos. São as vezes minhas maiores qualidades. Como, por exemplo, ser capaz se ter três ou quatro opiniões distintas sobre um mesmo assunto, navegar por elas como quem vai a padaria e volta e sentir-me completamente coerente.
Mas esse texto era sobre ciúmes e eu, como sempre, me perdi. Sempre fui meio tijucano na minhas relações afetivas. Apesar de viver a maior parte da vida em mudanças, morando, trabalhando ou estudando por todas as regiões do Rio, parece que eu nasci meio tijucano. Sabe aquela coisa que quer ser moderno mas não consegue? Aquilo de, apesar de tudo, ter um padrãozinho pra tudo? Nada contra a Tijuca, que fique claro, inclusive porque a maior parte dos tijucanos nunca passou sequer pela tijuca... tijucano é um estado de espírito e não é preciso aprofundar-me mais nisso.. O que importa é a relação de ciúmes em sendo, assumidamente, tijucano.
Nos meus 22, 23 anos, ou melhor, até lá, eu não sabia o que era ciúmes. Mas sabia o que era chifre. E corno eu não queria ser. Não era defensor da monogamia nem um pilar dos bons costumes,  mas não queria ser corno.  A traição carnal, física, sexual era um problema, uma coisa imperdoável, principalmente por conta da vaidade. E, por outro lado, eu não dava o menor valor as conquistas que eu tinha. Eu tinha a vaidade e não queria ser corno, por vaidade. Simples assim.
Mas, a medida que eu passei a ter que me esforçar, uma vez que meu umbigo se dilatava e meu senso estético se apurava, eu comecei a reconhecer o preço das vitorias que eu tinha. Não era mais vaidade apenas. Era o preço do meu suor e lábia. Além disso, no processo de me conhecer, o Mário descobriu que ele não era assim, uma Brastemp. Nem mesmo um CCE. Era, no máximo, um cara legalzinho. Pra minha sorte, há poucos cara legais no mundo. Digo, há muitos, mas a concentração é baixa por essas bandas de cá. E, voltando naquela coisa de que ninguém é 100% alguma coisa 100% do tempo, eu to longe de ser legal 100% do tempo. No máximo 10, e é pela taxa de serviço...
Daí, aquele cara que tinha uma máxima -  “eu não sei o que é ciúmes e não tolero que sintam ciúmes de mim -, morreu.
Vai chegar o dia em que ele vai ser um sentimento bem pequeno, mas por enquanto ele ta por ai, ocupando um espaço gigante onde podia morar a alegria, a felicidade, o amor. Sim, eles existem em grande escala (ô sorte!) na minha vida, mas o ciúmes é sempre um peso morto. Eu deixo ele quieto, procuro não mexer com ele, pois ele tem dentes e garras, memória longa e mão pesada e pode machucar. Há também ainda a vaidade tijucana de não querer ser corno, mas já não é tão importante. Nem o ciúmes deveria ser, mas, sabe como é, eu ainda me conheço pouco e, apesar de eu estar indo bem comigo, ainda preciso me conhecer melhor...

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