Eu não lhe conheço. Nunca lhe conheci. Não sei que tipo de pessoa você é. Não sei do que é feita a sua carne, de que cor é o seu sangue nem por que tipos de labirintos ele corre. Não sei sob que lógica se desdobram seus pensamentos, por que planetas eles voam nem o tamanho de suas asas. Não sei pelo o que bate seu coração, aquilo que lhe emociona, lhe faz sorrir ou chorar. Não sei o que alimenta sua loucura e nem onde mora essa sua necessidade de se destruir. Não sei o que te movimenta, o que te faz seguir em frente, nem sei o que te paralisa, o que lhe causa pânico. Não sei quem é você nem sei do que você capaz. Eu não sei nada sobre você. Nunca lhe conheci. Eu não lhe conheço.
Hoje eu te vi e isso doeu. Tive que constatar o quanto não te conheço e isso doeu.
Eu preferia te ver morta a te ver feliz. Não, não queria você realmente morresse, não lhe desejo mal. Mas queria você morta dentro de mim, como uma lembrança esquecida, sem saudades, sem memórias, sem passado, sem nada, como se nunca tivéssemos acontecido. Me pergunto se realmente acontecemos... Não sei. Será preciso tempo para saber...
Queria você morta dentro da mim. Você ainda está dentro de mim, como uma carta que nunca chegou, como uma abraço que não foi dado antes de partir, como um presente comprado e não entregue, como uma viagem planejada que não saiu do papel, como um aborto, como um sonho que se esquece antes de levantar, como um incômodo. E eu te mataria como se mata um sonho – a base de doses cavalares de realidade.
E hoje veio a porrada de te ver, na mais duras das realidades, vivendo suas opções. Foi duro te ver. Você parada, inerte, estática, surpresa, na distância de uma porta de vidro, a qual você não teve a coragem de cruzar. Cena de filme, os dois parados, tensos, errados, com olhos nos olhos, com as palavras atravessadas, em choque. Foi duro ver o quanto de você já morreu em mim. Mas pior foi ver o quando dói aquilo de você que ainda mora em mim. Hoje você morreu mais um pouco. E de pouco em pouco você não será mas nem uma lembrança. Aos poucos, você morre. Aos poucos, você nem mais existiu.
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